Saúde & Bem-estar


Postado por Rejane Meggyesy

A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) é um   sistema de saúde milenar que emprega diversas práticas é uma ciência inteiramente diferente e independente da ocidental convencional, é necessária uma breve reflexão sobre alguns conceitos filosóficos de origem oriental.

A concepção chinesa de saúde/doença é holística e, portanto, aborda uma visão do homem como entidade completa, cujas partes e funções estão integradas e não são passíveis de divisão.

Para adentrarmos um pouco mais no pensamento oriental da MTC, alguns princípios básicos tais como o Tao, Yin e Yang, Chi, Meridianos, Teoria dos   Zang Fu e Teoria dos Cinco Elementos.

Os mitos chineses mencionam um imperador com poderes celestes chamado Huang Di ou Imperador Amarelo, que foi o responsável por trazer o conhecimento da acupuntura em parceria com o seu “ministro ou mentor” Qi Bo. Juntos produziram um tratado sobre “medicina” interna traduzido do chinês clássico como Clássico Interno do Imperador Amarelo (Huang Di Nei Jing). O clássico é dividido em 2 livros, o Su Wen ou “questões simples”(tradução) e o Ling Shu ou Eixo espiritual. Porém, o Imperador Amarelo é o terceiro dentro da linhagem dos Imperadores Celestes da China antiga. Os mitos falam do primeiro Imperador celeste, um descendente direto de Pangú (Um ser primordial criador do céu, da terra e do homem segundo mitologia chinesa) que foi o Imperador

vermelho. Conhecido como Fu Xi ou Fo Hi, foi o receptor dos primeiros conhecimentos do Taoísmo e da Medicina Tradicional Chinesa. O I Ching , livro das mutações ou transmutações, foi trazido por uma tartaruga negra e entregue a Fu Xi, através do seu casco onde estavam gravados os

64 hexagramas que compõem o livro. Outra lenda diz que o I Ching foi trazido por um cavalo alado e o livro estava gravado no dorso. Mas o mais importante atribuição ao Imperador Vermelho é a noção mais básica do Taoísmo e da MTC que é o Yin e o Yang. O segundo Imperador Celeste foi Shen Nong ou Imperador Verde. Um ser exótico com cabeça que lembrava um boi e roupas feitas de folhagem que nada lembravam o glamour de uma corte. O Imperador Verde é o Pai da Fitoterapia Chinesa e foi a transição do nomadismo para o sedentarismo através do domínio da terra, desenvolvendo a agricultura e o pastoreio. Segundo os mitos chineses, todos os Imperadores Celestes foram longevos e viveram mais de 100 anos cada, pois viviam dentro do princípio taoísta que era “viver entre o céu e a terra”, ou seja ser o yin e o yang integralmente.

O conceito do Tao é extremamente profundo e complexo, e um dos mais importantes da filosofia chinesa. A concepção do Tao dentro da medicina chinesa tem como premissa básica a noção de que a relação de equilíbrio e harmonia entre o homem e a natureza é a essência da manutenção da saúde. Lao-Tsé (551 a.C. – 479 a.C.), um grande sábio e filósofo da China Antiga e autor do Tao Te Ching – primeira obra a apresentar o Tao de maneira mais profunda e elaborada – afirmou que o verdadeiro Tao não pode ser explicado e nem sequer nomeado, pois está além de palavras e conceitos.

No poema, Lao-Tsé escreve:

No entanto, pensadores chineses tentaram descrever o que seria esse “algo inominável”; sendo assim, o Tao pode ser considerado a energia primária do Universo, a qual é raiz e origem de tudo o que existe, é o princípio que a tudo rege e está acima de todas as formas, é a consciência original.

No Tao Te Ching, é dito que o Tao deu origem ao “Um Primordial” e esse Um deu origem ao Dois – o Yin e o Yang –, os dois aspectos da dualidade existente em todas as coisas. Assim, vemos que esses dois conceitos estão intimamente ligados, começando pelo próprio símbolo que representa o Tao.

Acredita-se que esta lenda sobre a criação do mundo surgiu com monges taoístas e seguidores do filósofo Lao Zi. Por isso o princípio do Yin Yang se faz tão presente. O conceito fala de duas forças opostas: Yin é a energia fraca e escura, e o Yang é intenso e iluminado

O símbolo do Tao consiste de dois opostos complementares: Yin, representado pela cor preta e Yang, pela cor branca. Dentro do elemento Yin há um ponto do elemento Yang e vice-versa, demonstrando assim que nada é fixo ou estatístico, mas que tudo está em constante interdependência, mudança e dualidade na natureza, indicando a eterna transformação.

Yin e Yang são opostos complementares que, juntos, formam uma unidade.

Eles interagem entre si e são totalmente interdependentes, pois não há a existência de um sem a presença do outro. Quando um deles chega ao seu ápice de atuação, começa a transformar-se no outro, e assim acontece sucessiva e eternamente nos processos da natureza. Algumas características Yin na natureza são: escuridão, noite, inverno, frio, lua, receptividade e o feminino, e as manifestações Yang são: luz, dia, verão, calor, sol, atividade e o masculino. Yin e Yang não são conceitos absolutos; um elemento será considerado Yin ou Yang sempre em relação a algo, podendo ser Yin em um dado momento e Yang em outro, de acordo com a perspectiva empregada.

Em nosso corpo, certos locais acumulam mais energia Yang, como a cabeça, costas e face externa dos membros, e outros locais são mais Yin, como os membros inferiores, a região ventral e a face interna dos membros. a doença é o rompimento desse equilíbrio e pode ser diagnosticada pelo excesso ou deficiência de Yin ou Yang. Quando há desequilíbrio, o fluxo de energia vital existente em todos os indivíduos não circula de forma contínua, impossibilitando assim as atividades normais.

O Chi, chamado de energia ou sopro vital, é a força essencial existente no ser humano, é o que lhe permite estar vivo e realizar suas tarefas. Na China, matéria e energia são indissociáveis, pois a própria matéria é energia, que se manifesta de forma mais “condensada.O Chi é proveniente de diversas fontes, como por exemplo da própria natureza; da energia vinda dos pais no momento da concepção (energia hereditária), representando a potencialidade do ser humano em seu nascimento; do ar, da água e também dos alimentos. Esta energia vital se espalha por todo o corpo, não de forma desordenada, mas seguindo vias próprias de distribuição, chamadas de meridianos. Esta energia, que é nutridora de todos os tecidos, órgãos e sistemas do corpo, também exerce influência sobre as funções psíquicas e emocionais do indivíduo.

Os meridianos são canais de energia, são os caminhos por onde flui o Chi em nosso organismo. É aí que se encontram os pontos de acupuntura. Existem 12 meridianos principais que se distribuem superficialmente e na forma de pares, ou seja, para cada meridiano Yin há um meridiano Yang correspondente. São eles: meridiano do Pulmão (P) e Intestino Grosso (IG); Baço-Pâncreas (BP) e Estômago (E); Coração (C) e Intestino Delgado (ID); Rins (R) e Bexiga (B); Fígado (F) e Vesícula Biliar (VB); Pericárdio (MC) e Triplo-Aquecedor (TR). A cada duas horas há uma predominância do fluxo de energia em um dos pares de meridianos principais, que influenciará diretamente os órgãos em que atuam. Como exemplo, podemos citar o meridiano do pulmão, onde a energia está predominantemente circulando das 3 às 5 horas da manhã, portanto, este é um ótimo horário para realizar práticas de respiração e a pior hora para fumar.

Os órgãos Zang são de característica Yin e possuem uma consistência mais compacta. Eles recebem, armazenam, produzem e transformam o Chi, e compreendem Pulmão, Baço-Pâncreas, Coração, Rins, Fígado e função Pericárdio, esta última relacionada à vaso motricidade do coração e ao controle das emoções. Os órgãos Fu são de característica Yang, ditos ocos, e suas principais funções são a de digerir e absorver os compostos nutritivos dos alimentos e excretar os detritos provenientes do metabolismo. O Intestino Grosso, Estômago, Intestino Delgado, Bexiga, Vesícula Biliar e função Triplo Aquecedor – relacionada à manutenção do calor do corpo e à digestão e regulação dos sistemas endócrino e linfático – também chamados de vísceras. O zang fu interligados atua como uma unidade funcional, a qual pode se encontrar em equilíbrio ou desequilíbrio, isto é, ela possui um padrão de sinais e sintomas, onde cada unidade adoece de uma determinada forma.

Segundo a MTC, os cinco elementos são os componentes básicos que constituem a natureza. Nosso organismo, que é regido pelos mesmos princípios da natureza, sofre a influência dos cinco elementos em suas atividades fisiológicas. Os cinco elementos, também chamados de cinco movimentos ou cinco manifestações das energias da natureza, se manifestam através da interação existente entre Yin e Yang e são eles: a madeira, o fogo, a terra, o metal e a água.

A vida, de uma forma geral, depende da interação e do equilíbrio desses elementos que estão em constante produção e destruição. Esses processos naturais são chamados ciclos de geração e dominância, onde cada elemento tem seu papel ativador e inibidor; se algum estiver em falta ou excesso, todo o ciclo é alterado, causando danos ao organismo. Para exemplificar a interdependência dos elementos, podemos explanar poeticamente sobre o ciclo de geração, onde a madeira é mãe do fogo (é o seu combustível, como em uma fogueira), o fogo cria a terra (quando se reduz a cinzas), a terra é mãe do metal (que é originário e encontrado em suas profundezas), o metal cria a água (ele pode ser fundido e torna-se líquido, que representa a água) e a água, finalmente, é a mãe da madeira (extremamente necessária para o desenvolvimento de uma árvore).

Para compreendermos os fatores causadores das doenças na MTC, é importante salientar novamente que corpo, mente e emoções são tidos como totalmente integrados no ser humano. Assim, o ser humano pode adoecer por basicamente três motivos: fatores patogênicos internos, externos e os maus hábitos adquiridos.