Baixa Visão:


Postado por Ótica Revista

CONSIDERAÇÕES RELATIVAS AO ATENDIMENTO

Por Prof Alex Dias

Dando continuidade aos pontos que um   consultor necessita saber ao atender um cliente   com Baixa Visão, vamos falar sobre alguns detalhes importantes no momento da entrega do auxílio ao cliente.

Inicialmente o cliente desejará testar o auxílio que adquiriu e precisará ser orientado quanto ao seu uso. Muitas pessoas com Baixa Visão necessitam de orientações, inclusive quanto a mobilidade, caso o auxílio seja destinado para longe, aprendendo a manusear o recurso quando em ambientes mais amplos como, por exemplo, ao se deslocar pela rua ou por dentro de prédios. Neste caso é necessário investigar se o cliente teve o treinamento necessário. Um exemplo clássico é o uso de telescópio para visualizar uma placa de rua.

Um dos principais pontos a considerar nos casos de atendimento em Baixa Visão é o fato de que a pessoa, mesmo não enxergando bem, deve estar corrigida para longe, com óculos. Não são raros os casos em que os recursos para baixa visão não funcionam porque a pessoa “esquece” de informar que possui uma miopia muito alta, ou pior, possui um alto astigmatismo. Ela tenta usar o auxílio sem a correção adequada e certamente o resultado será ruim. Se a pessoa utiliza lupa e for presbita, provavelmente não necessitará de bifocais ou progressivos, pois a correção para perto já estará inclusa na lupa, isto também é importante observar.

Como o portador de Baixa Visão não responde aos testes usuais de verificação de acuidade visual, o profissional que prescreve o auxílio tem todo um cuidado especial para identificar a correção para longe que esta pessoa precisa e aplicar o melhor auxílio, que pode ser um telescópio, no caso da necessidade para longe ou uma lupa ou óculos especiais, se a necessidade for para perto. É neste momento, o da prescrição, que se distinguem aqueles profissionais que, por exemplo, são experientes na retinoscopia, pois o estado refrativo do olho precisa ser verificado e corrigido para que o cliente possa ser reabilitado e um eventual astigmatismo precisa ser compensado. Esta responsabilidade não é do consultor, mas de quem prescreve o auxílio óptico.

Fonte: https://commons.wikimedia.org/

Observe a necessidade de aproximar o objeto para enxergar melhor em uma distância menor do que a considerada normal para leitura.

Entregando o auxílio ao cliente:

Como disse anteriormente, um caso clássico é o da pessoa que chega na óptica, sem os óculos que foram prescritos para compensar um eventual problema de refração e, ao receber o auxílio, quer testá-lo sem os óculos e reclama que não consegue enxergar.

Também é importante reforçar que no caso de visão para longe é comum a utilização de pequenos telescópios, que são úteis para que a pessoa possa enxergar a lousa na sala de aula, uma placa de rua ou um ônibus que está se aproximando, por exemplo. Muitos destes telescópios possuem um ajuste que permite a pessoa compensar pequenos valores de dioptrias correspondentes a miopia ou hipermetropia, mas se a pessoa possuir astigmatismo ou necessidade maior de correção certamente não conseguirá utilizar o auxílio óptico.

Fonte: https://www.fcm.unicamp.br/fcm/auxilios-opticos/os-auxilios-opticos

Modelo de telescópio para Baixa Visão, normalmente utilizado para visualizar objetos afastados.

Outro detalhe a considerar é a negação do cliente quanto à Baixa Visão, que tem que ser tratada com paciência, buscando uma atitude empática e positiva para reforçar a necessidade do auxílio óptico. Muitas vezes somente deixar o cliente desabafar já traz ótimos resultados. Lembre-se de um bom consultor, antes de tudo sabe ouvir.

Um caso também comum são os óculos esfero prismáticos destinados a leitura. São prescrições como, por exemplo, para ambos os olhos, +12,00 dioptrias esféricas com 14 dioptrias prismáticas de base nasal. São comuns para pessoas não tem necessidade refracional para longe, mas tem Baixa Visão.

A primeira dica neste caso é encomendar o auxílio a uma empresa especializada, porque se o consultor optar por simplesmente escolher uma armação para perto e encaminhar o serviço para um laboratório não especializado certamente o resultado estético não será muito bom.

Fonte: https://www.luxexcel.com/applications/3d-printed-lens/
(na foto anterior):

No olho esquerdo temos o resultado de uma lente feita em um laboratório convencional e no olho direito resultado de um lente de mesma dioptria que o olho esquerdo por feita por um especialista.

Outro detalhe refere-se a distância de leitura, que automaticamente muitos consideram como de 35 a 40 cm e o consultor se espanta ao perceber que isto não funciona com este tipo de cliente. A distância de leitura pode ser calculada da seguinte maneira: cem dividido pela dioptria esférica dos óculos. Em nosso exemplo, calculando cem dividido por doze nos levará a um valor próximo de oito centímetros. Então esta será a distância de leitura desta pessoa e ela terá que aproximar mais o objeto, que pode ser uma bula de remédio, um livro ou um folheto, por exemplo. Algumas vezes se a pessoa possui alguma necessidade de correção refracional, como uma pequena miopia ou hipermetropia esta distância pode mudar um pouco. O importante é deixar que ela mesmo encontre a distância ideal, sob a orientação do consultor, mas de qualquer forma deve-se esperar que vai aproximar mais o objeto do rosto.

Relato de caso:

Ainda guardo na lembrança um caso em que nos solicitaram para ajudar uma aluna que tinha problemas de Baixa Visão, cujo desempenho escolar estava sendo prejudicado e insisti para um colega optometrista, que não estava acostumado a atender casos como este, para que ele verificasse o problema, pois ele possuía um kit de auxílios ópticos destinados ao caso.

Inicialmente sabia-se que o caso era sério e havia poucas possibilidades de melhorar a visão da aluna. Porém, ao investigar mais profundamente o problema, ele descobriu que a aluna apresentava uma necessidade de correção de -13,00 dioptrias, ou seja, era portadora de uma miopia alta e, ao corrigir a necessidade refracional da aluna, não esqueço a feição de espanto de meu colega quando, utilizando um telescópio, ela começou a ler a tabela de optotipos.

São situações gratificantes como esta que nos fazem acreditar na importância de buscar a melhor qualidade de visão para uma pessoa.

Assim, ao atender um cliente com Baixa Visão, lembre-se do cuidado adicional que precisará na hora da entrega do auxílio e das orientações para seu uso. Lembre-se que que eventualmente as pessoas próximas ele podem ser seus próximos clientes.

Um grande abraço e bons negócios a todos.