A maior causa de deficiência visual no mundo é a falta de óculos de grau. A informação é da OMS (Organização Mundial da Saúde). O levantamento demonstra que a prevalência dos problemas de visão varia entre os países. Por aqui, a falta de correção da presbiopia que dificulta enxergar de perto a partir dos 40 anos e dos erros de refração – miopia, hipermetropia e astigmatismo – respondem por 53% das deficiências visuais evitáveis. Superam, inclusive, a catarata, opacificação do cristalino, que no Brasil responde por 49% da perda reversível da visão, contra 35% nos países mais ricos.
Segundo o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto do Instituto Penido Burnier, a pandemia de coronavírus piorou ainda mais a saúde ocular do brasileiro. Isso porque, os prontuários do hospital mostram que 53% dos brasileiros acreditam ser possível perceber qualquer alteração na visão logo no início. Não é bem assim. O médico afirma que a maioria das doenças passam despercebidas no início. Por isso, para preservar a saúde dos olhos é necessário acompanhamento médico. A quarentena e o medo da Covid-19, comenta, fizeram muitas pessoas falharem na periodicidade das consultas oftalmológicas. Resultado: Na retomada das atividades do hospital, uma das queixas mais frequentes tem sido a dor de cabeça decorrente de lentes de contato e óculos com grau desatualizado.
Mais horas online
O oftalmologista afirma que outra causa da dor de cabeça é o aumento de horas em frente ao computador para realizar trabalhos home office. Isso porque, em frente às telas fazemos menos movimento com o globo ocular e diminuímos de 20 para seis ou sete vezes o número de piscadas. “Por isso, quem usa computador ou celular por mais de 2 horas tem cefaleia, olho seco e visão embaçada. Para reduzir o desconforto nos olhos as dicas são: diminuir o brilho e aumentar o contraste da tela, olhar para um ponto distante com frequência, piscar voluntariamente e manter a iluminação ambiente difusa.
Risco das lentes de contato
“Muitas horas online entre pessoas que usam lente de contato, principalmente do tipo gelatinosa, provocam a quebra mais rápida do filme lacrimal”, salienta. O risco é ainda maior no inverno porque a baixa umidade aumenta o ressecamento da lágrima e facilita a formação de depósitos na lente. Estes fatores, ressalta, podem provocar alterações na textura, coloração e transparência da lente por causa de sua maior fricção na superfície do olho.
Por isso, recomenda consultar um oftalmologista e interromper imediatamente o uso da lente quando os olhos apresentarem vermelhidão, sensação de corpo estranho e visão embaçada. Em muitos casos, ressalta é necessário trocar a lente antes do vencimento. As dicas do especialista para o uso seguro de lente de contato são: jamais dormir com lente, limpar e enxaguar a lente e o estojo só com solução higienizadora, nunca enxaguar com água, trocar o estojo a cada quatro meses, respeitar o prazo de validade e interromper o uso sempre que sentir algum desconforto.
Miopia em crianças
O especialista afirma que a dupla jornada online de crianças navegando um período para estudar e outro para brincar aumenta o risco de miopia. Isso porque até os 8 anos de idade o olho está em desenvolvimento e o excesso de esforço visual para enxergar as telas próximas contrai a musculatura ciliar dos olhos que perdem a capacidade de focalizar à distância. Isso ficou demostrado em um levantamento feito por Queiroz Neto com 360 crianças de 6 a 9 anos. É a miopia acomodativa, uma dificuldade temporária de enxergar à distância. O médico afirma que este tipo de miopia pode ser eliminado com mudança de hábitos, atividades ao ar livre que aumentam a produção de dopamina e controle do consumo de açúcar que interfere no crescimento do eixo óptico de crianças. O problema, comenta, é que a pandemia dificulta a prática de exercícios por crianças que vivem em apartamentos sem opção de espaços abertos. Ainda assim, um banho de sol na varanda do apartamento é melhor que permanecer o tempo todo em ambientes fechados olhando para uma tela.
Envelhecimento e doenças crônicas
Queiroz Neto afirma que o rápido envelhecimento da população brasileira vem acompanhado do aumento de casos de catarata que acumula pessoas na fila de espera do SUS por causa da diminuição das cirurgias eletivas durante a pandemia. O único tratamento para catarata, ressalta, é a cirurgia que consiste no implante de uma lente intraocular que substitui o cristalino opaco. Ele conta que recentemente recuperou a visão de uma paciente que tinha grande chance de ficar definitivamente cega por ter comorbidades. Na pandemia, ressalta, muitos portadores de doenças oculares crônicas que podem levar à perda irreversível da visão como o glaucoma, retinopatia diabética e degeneração macular falharam no acompanhamento dessas doenças. Por isso após a pandemia os casos de cegueira definitiva podem aumentar no País, conclui.
Fonte: LCD Comunicação